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domingo, 15 de julho de 2012

Pedalando pela Ligúria


Dia 12 saímos de Florença em direção a La Spezia. Pegamos um trem na estação central e desta vez foi tudo tranquilo com as magrelas. O trem tinha um vagão com lugar apropriado para as meninas. Ao chegarmos em La Spezia, mal entramos no hotel e o descolado recepcionista multilínguas, sociólogo, político e outras coisinhas mais nos deu a dica de um barco para Portovenere. Tínhamos mais ou menos 30 minutos para levar as tralhas para os quartos e ir a pé até a marina para pegar o barco. Não sei como, mas tudo deu tão certo que, se tivéssemos planejado, não teria dado tempo. E lá fomos nós, no barcão, mar adentro, e em 30 minutos chegamos. (Obs. Aqui os lugares são tão lindos que a “bunda” já fica caída o tempo todo.) É difícil falar de Portovenere; o melhor e darem uma espiada aqui.

Rolê por Portovenere, pegamos o barco e retornamos a La Spezia. Descolamos um restaurante pequenino, num estilo bem local e comemos a melhor massa da viagem, até agora: um elaborado ravióli “al fruti del mare”. Simplesmente divino.

No dia seguinte, já estava na hora de começar a pedalar novamente, caso contrário, a viagem começaria a ser só de trem! Vai aí uma opção para quem não quer encarar muralhas pela frente, pois nossa rotina de pedalar é esta. Aqui no litoral da Ligúria, as paredes são tão ou mais verticais que a Toscana e como dizem por aqui, na subida, “piano, piano”... 

Para pedalar por aqui é necessário ter algum preparo físico e estar acostumado com subidas transportando peso extra (todas as tralhas) e o sol castiga, castiga, castiga... Os percursos aqui se apresentam com grande variação altimétrica e inclinação aguda. Isso faz com que não consigamos cumprir longas distâncias em um único dia de pedal. Portanto, a média diária tem sido em torno de 55 km; alguns dias mais, contudo, nada mais do que isso. O trecho entre La Spezia e Levanto possui um visual magnífico, pois estamos se pedala por escarpas com cidadezinhas ao fundo beirando o mar e encravadas nas falésias. Esta é a região da Cinque Terre, com o mar de um azul profundo e vivo e tons de verde mesclando esta imensidão. Diante de todo este visual, neste dia, ficamos mais tempo parados mirando as belezas (mar, vinhedos nas escarpas, cidades minúsculas que parecem de brinquedo, tudo isso integrado com o verde das matas, pois este trecho esta dentro de um parque nacional). Nesta etapa  pedalamos 44,5 km com uma média de deslocamento de 8 km/h. Nossa média de velocidade geral: 4,2 km/h. Tempo de deslocamento: 4h35min. Tempo parados: 4h55min. Depois de todo esse para, sobe, para, sobe, chegamos em Levanto e estava tudo lotado. Maior perrengue para arrumar hotel. Graças ao centro de informações turísticas da cidade, conseguimos um Bed & Breakfast (Ca´ del Golfo) na casa de uma senhorinha que parecia nossa vovó. Uma fofura!

Uma dica importante é o lance da hospedagem. No nosso caso, optamos por ficar em hotel e a média de hospedagem por aqui é de 85 euros com café da manhã para um casal num apartamento suíte. Só conseguimos encontrar menu turístico em Florença, por enquanto. Um jantar (primeiro e segundo prato) para dois com vinho da casa (uma garrafa) e uma água grande sai em média 40 euros. Durante o dia sempre se consome algo, lanche, água, etc. Se apertar o bolso, dá para economizar na comida, comprar coisas em mercado é sempre mais em conta e ai depende do "bolso" e também da disposição. O grande problema quanto a hospedagem parece ser durante o final de semana principalmente em cidades pequenas com pouca opção de hospedagem e tentar um hotel sem reserva. Sexta-feira e sábado são dias críticos. De domingo a quinta é mais tranquilo. Caso você faça uma viagem bem planejada e realmente vá cumprir metas de distância, dá para reservar hospedagem com pelo menos um dia de antecedência, por telefone ou através de sites de busca de hospedagem. É possível, inclusive, já sair do Brasil com tudo reservado. Quem estiver a fim de acampar e carregar mais peso, há muitas opções de camping por estas paragens, tanto na Toscana quanto na Ligúria. Já camping selvagem na Ligúria creio que não rola, mas na Toscana há muitas propriedades rurais e, de repente...

Levanto é um balneário de característica familiar, agradável, entretanto, para nós, um local apenas de passagem, já que a cidade em si não possui maiores atrativos, sendo um ponto de partida para as trilhas (trekking e bike) do Parque Nacional Cinque Terre.

No terceiro dia na Ligúria, saímos de Levanto rumo a Sestri Levante, com o tempo fechado, garoa (choveu durante a noite). Neste percurso pegamos a maior parede até agora: 615 m de subida contínua, sem pontos planos ou descidas, em justos 14 km (The Wall). O tempo feio foi providencial. Antes de começar o pedal, compramos mais uma câmara, pois o pneu da minha magrela furou de novo, agora o de trás. Aproveitamos para reservar, por telefone, um Bed & Breakfast em Sestri Levante, para garantir. Mesmo assim, não foi fácil descolar a hospedagem. Tudo feito, partimos para The Wall.

Quando chegamos a mais ou menos 450 m de altitude, entramos na zona de neblina e por mais de duas horas de pedal não se via um palmo na frente do nariz e o pedal ficou com clima de filme de terror. Interessante (Camila não curtiu na hora, mas depois se sentiu uma exterminadora de vampiros). Terminados os 615 m (Passo del Braco), foi só descida até Sestri Levante; tantas horas para subir e minutos para descer (tô pensando em comprar uma bike elétrica).

Ao chegarmos no tal Bed & Breakfast, o local nos pareceu meio estranho, num bairro afastado do centro cerca de um quilômetro e meio. O local não tinha nenhuma indicação e ficava num prédio de apartamentos. Não havia lugar para deixar as bikes e elas ficariam na rua. Então o jeito foi continuar pedalando rumo a Gênova. No meio deste caminho, passamos por Rapallo e, como já eram seis da tarde e ainda faltavam 30 km para chegar em Gênova, com várias subidinhas, tentamos a sorte por ali mesmo. Moral da história: ficamos no Hotel Itália, meio carinho, mas local vip para as magrelas. Como não havíamos gastado quase nada pelo caminho, só um lanchinho básico, foi ali mesmo que paramos.

Rapallo é muito linda e o hotel fica na boca da praia, de frente pro mar e tem visão de toda a baía, com castelo na frente. Nosso quarto tinha varanda, mesinha e cadeiras de frente pra tudo isso. Bom, não precisa dizer mais nada: fomos para o mercado, compramos vinho e várias guloseimas e fizemos aquele piquenique desfrutando do visual. Nossa, me senti o Amauri Júnior na varanda do Hotel Conrad, em Punta del Este, Uruguai.

Depois de ficarmos várias horas comendo e bebendo, refizemos os planos e optando por pegar um trem no dia seguinte até San Remo dormir e sair no dia seguinte pedalando até Nice já em território Frances.

A viajem de trem até San Remo durou cerca de 4 horas e novamente tudo deu certo com as bikes, o trem tinha vagão para elas e um lance legal é que na Ligúria não precisa pagar suplemento extra para as bikes, como nas outras regiões da Itália. Viajamos ao lado de dois cicloturistas Franceses que também usavam o trem para encurtar distâncias. Este lance do trem é muito legal, pois sem ele não conseguiríamos correr longas distâncias em 30 dias e conhecer tantos lugares. Mesclar bike e trem é uma excelente forma de conhecer a Europa ou qualquer outro logar que disponha deste tipo de facilidade.

Chegamos em San Remo, cidade grande e um tanto caótica. Ligamos para um hotel em Ventimiglia, 15 km para frente de San Remo e nos mandamos para lá em um pedal bem rápido e sem subidas, tudo bem planinho. Hango no MacDonald's e fomos pro hotel. Ao chegar na rua do hotel, ela estava interditada, lotada de gente assistindo um Show de ginástica artística infantil, para entrar dentro do hotel com as bikes foi o maior desafio, empurrando o povo, parecia guerra, mas no fim conseguimos. Ufa!!!

Amanhã sairemos para Nice encerrando o pedal na Itália e em breve colocaremos as fotos da Ligúria no Facebook.

Ps: O pedal de Levanto até Rapallo foi de 58,1 km; velocidade média de deslocamento 12,7 km/h; velocidade média geral 9 km/h; tempo de deslocamento 4h35' e tempo parado 1h52'.

4 comentários:

  1. Oi Pepê e Camila!!! Tudo bem com vocês?
    Claro que deve estar tudo bem, nestes caminhos incríveis que estão passando... Estou aqui acompanhando tudo, inclusive as fotos no FB que estão excelentes. Fiquei perdido naquelas, cidades e montanhas do litoral!
    Puts! Dá uma baita vontade de colocar o pedal e o pé na estrada. Que bom isso!
    Obrigado por compartilharem estes momentos tão bons da vida de vocês!
    Sigam firmes e fortes nas pedaladas, pois as subidas nos levam para lugares maravilhosos!
    Abração e se cuide...
    Fábio (FES)

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    1. Oi, Fes!!! Conosco tudo ótimo, viagem rolando super bem e nós felizes da vida!

      Realmente as subidas nos levam a lugares maravilhosos e por aqui elas existem em abundância!!!!! Mas cada uma que superamos nos dá de presente um mega visual e a sensação inigualável de superação.

      Obrigada a você pela força e por estar nos acompanhando daí; em muitos momentos (principalmente quando chegamos num lugar louco de lindo) dizemos um ao outro o quão legal seria se a galera estivesse pedalando com a gente, pois certamente seria uma festa se estivéssemos todos juntos e o pessoal ia curtir horrores pedalar por aqui.

      Ah, e temos marejado bastante, rs, rs (marejamos em especial na Toscana, no geral mais de uma vez ao dia)!!

      Muitos abraços e um grande beijo,

      Camila e Pepê

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  2. Boa Noite, tudo bem, estou adorando ver estas fotos, realmente lugares encantadores, valeu fiquem com DEus e boa viagem.Abraço.

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